sábado, 5 de julho de 2008

Paisagem de interior (Jessier Quirino)

Matuto no mêi da pista
menino chorando nu
rolo de fumo e beiju
colchão de palha listrado
um par de bêbo agarrado
preto véio rezador
jumento jipe e trator
lençol voando estendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Três moleque fedorento
morcegando um caminhão
chapéu de couro e gibão
bodega com surtimento
poeira no pé de vento
tabulêro de cocada
banguela dando risada
das prosa do cantador
buchuda sentindo dor
com o filho quase parido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Bêbo lascando a canela
escorregando na fruta
num batente, uma matuta
areando uma panela
cachorro numa cadela
se livrando das pedrada
ciscador corda e enxada
na mão do agricultor
no jardim, um beija-flor
num pé de planta florido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Mastruz e erva-cidreira
debaixo dum jatobá
menino querendo olhar
as calça da lavadeira
um chiado de porteira
um fole de oito baixo
pitomba boa no cacho
um canário cantador
caminhão de eleitor
com os voto tudo vendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um motorista cangueiro
um jipe chêi de batata
um balai de alpercata
porca gorda no chiqueiro
um camelô trambiqueiro
avelós e lagartixa
bode véio de barbicha
bisaco de caçador
um vaqueiro aboiador
bodegueiro adormecido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Meninas na cirandinha
um pula corda e um toca
varredeira na fofoca
uma saca de farinha
cacarejo de galinha
novena no mês de maio
vira-lata e papagaio
carroça de amolador
fachada de toda cor
um bruguelim desnutrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Uma jumenta viçando
jumento correndo atrás
um candeeiro de gás
véi na cadeira bufando
radio de pilha tocando
um choriço, um manguzá
um galho de trapiá
carregado de fulô
fogareiro abanador
um matador destemido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um soldador de panela
debaixo da gameleira
sovaqueira, balinheira
uma maleta amarela
rapariga na janela
casa de taipa e latada
nuvilha dando mijada
na calçada do doutor
toalha no aquarador
um terreiro bem varrido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

Um forró de pé de serra
fogueira milho e balão
um tum-tum-tum de pilão
um cabritinho que berra
uma manteiga da terra
zoada no mêi da feira
facada na gafieira
matuto respeitador
padre, prefeito e doutor
os home mais entendido
isso é cagado e cuspido
paisagem de interior.

sábado, 21 de junho de 2008

Incógnita (Raquel Teixeira de Freitas)

Para quê ter experiências, quando o momento pede uma criança indefesa? Por que me sentir frágil, quando mais preciso da experiência de vida?Não entendo o que tenho que esperar de mim, e nem por que tudo parece tão difícil. Talvez o tédio da facilidade fosse melhor para mim, ou quem sabe, me propiciasse mais alegria.É que, as vezes, fico me perguntando sobre o que sou, o que quero ser, onde quero chegar e o que devo fazer... E mais uma vez, o silêncio e a incerteza prevalecem e revigoram-se.Também não sei o que as pessoas querem de mim, e o que posso fazer por elas, mas tenho dom de perceber que algo deve ser feito, e que, na maioria das vezes, essa atitude deve partir de mim. É estranho, porque neste momento eu... me sinto insegura novamente, mas ao mesmo tempo, madura por querer tomar alguma decisão.As dificuldades aumentam e trazem consigo mais dúvidas... Pouco a pouco, o que sobrou da esperança vai se desfazendo, fugindo, esmaecendo, calmamente... Percebendo isso, tento me controlar, raciocinar. Minhas atitudes repentinas nem sempre são as melhores, confesso, mas mesmo assim, para mim, naquele momento, solucionam o problema. As pessoas, ao invés de verem esse ato como 'alguma coisa feita', me apunhalam pelas costas, indagando-me por que não cortei a "raiz"?O meu problema é não conseguir pensar direito guardando comigo tantos segredos meus, e o de outras pessoas... Tantas dúvidas, tantas chateações, tantas injustiças, reclamações e... sofrimento...Sim, eu sofro. Sofro por cada tentativa frustrada, tanta navalha afiada na minha garganta deliberadamente incessante por eu não poder gritar uma palavrinha sequer sobre cada centímetro de segredos, sentimentos e coisas que tenho que guardar somente comigo mesma...É inquietante saber tudo isso e não poder agir. Ver a vida passar por medo de fracassar. Viver dessa forma e ainda tentar ser notada pelos meus atos, apenas por um minuto...Se Deus quer sempre o nosso melhor, não entendo por que todos conseguem, podem e fazem acontecer, e eu não.Para quê ter armas e não saber lutar?Mas, se eu dissesse, algumas coisas sairiam de seu eixo. Caminhos alternativos se multiplicariam, trazendo talvez mais discórdia, ódio, desespero, sofrimento, duelos e intrigas... Pessoas se machucariam... Não posso, meu Deus, não posso...Talvez essa seja minha saga: Saber a verdade, internalizá-las e não conseguir me livrar delas. Maldita comoção pelos mais fracos e covardes! Maldita ajuda implacável a qual meu destino foi lançado...Deus escreve o final de cada um de vocês... Mas penso que quando Ele pegou o meu rascunho de vida, deve ter repensado sobre o que fazer de mim, ou mesmo se cansado do serviço árduo de decidir sobre a vida das pessoas que criou e jogou nessa terra...Dentre tantos na fila infinita, por que eu fui escolhida? Sou tão frágil como uma criança, tão madura quanto um adulto. Sou igual a cada indivíduo deste mundo, mas parece que todos os problemas se voltam contra mim. E somente à mim. Tudo errado. Tudo despedaçado. Tudo confuso. Nada certo. Nada inteiro. Nada claro.Essa incógnita indecifrável que é viver... me faz procurar respostas que jamais conseguirei obter... ...Pois para mim, tudo é diferente, nada é igual... O tédio da facilidade me seria melhor... Mas nada do que quero, posso. Nada do que tenho, é meu. Nada... Nem meus segredos... nem seus segredos... nem todo o meu conhecimento, é meu... Acho que... nem eu sou realmente eu... Repenso minha existência, e não chego a lugar algum.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Êxtase por Ademar Augusto


O coração pulsa...

mais rápido, mais forte, mais alto.

A sensação êxtase

é de como se estivesse no mais

gostoso gozo de sensações.

Teu corpo voa a altura do prazer,

o teu ser já não responde

ao comando da sua mente,

seus pensamentos

viajam muito além e, o

órgão que a ti pertence

se trensforma em objeto.

Tua pele encharca tuas vestes

com o suco salgado das transpirações.

N'outro corpo este suco

transforma-se em perfume.

E surge o que chamamos de

aroma do amor.

Tuas mãos zumbis, impinotizadas,

percorrem pela imaginação

sentindo todas as curvas e

delineações... Teu corpo treme!

Você, na amplitude

da insaciável cede

da acidez da sua boca,

na essência do tesão

e dos dsejos,

suplica por...

sexo!!!

quinta-feira, 21 de junho de 2007

O Rio e o Oceano


Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar, Voltar é impossível na existência. Você pode apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano. Mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento, mas por outro lado é renascimento. Assim somos nós, voltar é impossível na existência. Você pode ir em frente e se arriscar. Coragem torna-se oceano.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Elos da Vida


Pessoas são como elos... Elos que se entrelaçam pela força do destino, Elos que se definem pelo livre arbítrio... Pessoas formam histórias.Histórias de vida, com rumos pré destinados... Histórias de vida, de livre escolha dos próprios atos. O nosso eu acaba sendo formado de pessoas... Pessoas que amamos, pessoas que odiamos, pessoas especiais ou insignificantes... A nossa história é formada de pessoas... Muitas delas ficam apenas um pouquinho conosco... Outras, uma eternidade de tempo físico... Outras ainda uma eternidade de tempo espiritual. Essas permanecem conosco mesmo depois que o elo físico se rompe... São personagens de relações eternas de amor! O rompimento doloroso só consegue provocar o afastamento da matéria; do espírito jamais... São essas pessoas que fundamentam o nosso alicerce de vida. Elas vão e ficam ao mesmo tempo. São pessoas que jamais nos deixam sós, pelo simples fato de morarem dentro de nossos corações... Elas são elos inquebráveis, que nos tornam capazes de sermos também elos em outras vidas... Elos de amizade... Elos de amor... Assim é a corrente da vida, onde as pessoas formam sempre elos... Sinto que vivemos uma nova era de relacionamento, feita também de elos... Elos virtuais... mas tão reais... Elos que nos marcam profundamente!!!

Amazônia

Essa merece ser lida, afinal não é todo dia que um brasileiro dá um esculacho educadíssimo nos americanos! Durante debate em uma universidade, nos Estados Unidos, o ex-governador do DF, ex-ministro da educação e atual senador CRISTÓVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia.
O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um brasileiro. Esta foi à resposta do Sr. Cristóvam Buarque:
De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia posso imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural Amazônico, seja manipulado e instruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele, um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. "Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que NovaYork, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos Mahatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris,Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro."Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maiores do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. "Defendo a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa!

CRISTÓVAM BUARQUE

Alfredo é Gisele - Eliza Lucinda

Sora vê, daqui do táxi a gente sabe é cada coisa... Sabe e aprende, aprende até a não ter preconceito. Eu vou dizer, cada um tem o seu segredo, tem seu cada qual. Nem que seja uma coisica de nada, no fundo todo mundo sabe que la dentro tem uma verdade só dele que as vezes nem ele mesmo sabe.Outro dia peguei um casal assim já de meia idade, bem apessoado, lá no Centro, eles tinham ido vê uma tal de uma Ópera, sei lá. Já eram umas 11 e meia da noite, a gente veio bem até o Aterro, entramos em Botafogo e o trânsito emperrou. A mulher já azedou na hora e foi falando para o marido: - Que trânsito é esse, quase meia noite? Não é esquisito, Alfredo?
E o tal do Alfredo parecia um homem rico, mas não era fino, sabe? E também não gostava dela não. O cara era uma múmia. A resposta dele pras conversas da mulher tavam mais pra rosnado, sabe?- Alfredo, isso não é um absurdo? A gente aqui parado num trânsito quase de madrugada, não entendo, é estranho, hoje é sábado. Será que é algum acidente, Alfredo?Como o homem não dizia nada, eu acabei dando o meu pitaco: - Madame simplesmente aqui, da licença, virou um lugar só de "homensexuais". É cheio de barzinho deles, a rua toda. Fim de semana ferve. Quem quiser ver homem beijando homem e mulher beijando mulher se esfregando um no outro, é aqui mesmo.- Você tá ouvindo, Alfredo? Meu Deus, eles agora tem até bar pra eles, até rua!? Não é um absurdo, Alfredo?- Ô Onça, cê me conhece, sabe bem como é que eu sou. Pra mim isso se resolve é na porrada. Se eu sou o pai, eu desço do carro e não quero nem saber o que é que entortou, o que é que virou, não quero saber o que é cu e o que é fechadura, baixo o sarrafo na cambada! Eu, com sem-vergonhice, o sangue sobe, eu viro bicho.Que isto Alfredo pára de falar essas palavras de baixo calão, Alfredo é muito esquentado né motorista?Eu dei o meu pitaco: - Oh madame, o negócio que ele tá falando é que nem que eu vi lá no filme é uma metáfora. Ele não vai bater, vai só ficar zangado.- E o senhor sabe lá o que é metáfora? Fica aqui metendo o bedelho na nossa conversa aqui atras.- Eu sei o que é metáfora sim! Pelo que eu entendi é assim: aquilo não é aquilo, mas é como se fosse aquilo. Então, em vez da gente dizer que aquilo é como se fosse aquilo, a gente diz que aquilo é aquilo. Mas não é. É como se fosse. Entendeu?- Eu entendi, mas eu to chocada com essa libertinagem. Olha aquele homem... Alfredo, beijando outro homem, de bigode ainda, Alfredo! Olha Alfredo!- E hoje tá até fraco. Eu falei. Hoje nem tem os "general"?- Que general?- General é aquelas mulheres de coturno que parece meio assim um macho. E o outro tipo de general é aquele homem transformista que é a traveca, mas anda é na gillete mesmo.- Tá ouvindo, Alfredo? A decadência como estão?- E a gente vai ter que ficar parado nesta merda, ô Coisa?- Calma Alfredo, não fica nervoso! Isso é questão do nível das pessoas. A gente que tem... não é motorista? ... A gente tem um nivel, a gente tem mais condições, temos que entender essa, essa, como é que eu digo, meu Deus?- Putaria!Falamos juntos, eu, ela e o tal do seu Alfredo. - Cruzes Alfredo, olha aquela moça! Gente, uma menina, dezoito no máximo, e a outra maiorzuda no meio das pernas da coitadinha, fazendo sabe lá o quê! Tá vendo Alfredo aquela alí? Alí, aquela Alfredo, em cima do carro! Olha lá Alfredo, a mão da grandona na menina! Elas vão se beijar na boca, minha Nossa Senhora...- Que transitozinho, hein jararaca? A gente não vem aqui em Botafogo nunca mais, tá ouvindo ô coisa!- Mas Alfredo olha as duas meninas! Tá beijando, tá beijando, tá beijando Alfredo! Alfredo! Alfredo! Alfredo! Ela parece... Alfredo é Gisele! Alfredo! Nossa filha!?- Filha da puuuutaaa...E desmaiou, o tal doutor me desmaiou, enquanto a jararaca da mulé saiu porta afora de sapato na mão atrás das duas e eu pensando: não quero nem saber, vou encostar o carro aqui mesmo e espero o resolver, que umacorrida dessa eu não vou perder, que eu não sou bobo e nem sou rico. Éruim de eu ir embora, heim?Ai eu fiquei naquela situação: eu com um cara que era um ex-valente todo desmaiado no banco de trás parecendo uma moça, a mulé pisando forte que nem um um macho, um general, indo atrás da filha, quer dizer, tudo trocado e eles reclamando da filha. Se eu pudesse, eu ia lá defender a moça, mas não posso, já que o negócio é de família, né?Eu não tenho preconceito não, mas é isso que eu tava falando pra senhora: daqui a gente sabe cada coisa! Mas é cada um com o seu cada qual.