
E o tal do Alfredo parecia um homem rico, mas não era fino, sabe? E também não gostava dela não. O cara era uma múmia. A resposta dele pras conversas da mulher tavam mais pra rosnado, sabe?- Alfredo, isso não é um absurdo? A gente aqui parado num trânsito quase de madrugada, não entendo, é estranho, hoje é sábado. Será que é algum acidente, Alfredo?Como o homem não dizia nada, eu acabei dando o meu pitaco: - Madame simplesmente aqui, da licença, virou um lugar só de "homensexuais". É cheio de barzinho deles, a rua toda. Fim de semana ferve. Quem quiser ver homem beijando homem e mulher beijando mulher se esfregando um no outro, é aqui mesmo.- Você tá ouvindo, Alfredo? Meu Deus, eles agora tem até bar pra eles, até rua!? Não é um absurdo, Alfredo?- Ô Onça, cê me conhece, sabe bem como é que eu sou. Pra mim isso se resolve é na porrada. Se eu sou o pai, eu desço do carro e não quero nem saber o que é que entortou, o que é que virou, não quero saber o que é cu e o que é fechadura, baixo o sarrafo na cambada! Eu, com sem-vergonhice, o sangue sobe, eu viro bicho.Que isto Alfredo pára de falar essas palavras de baixo calão, Alfredo é muito esquentado né motorista?Eu dei o meu pitaco: - Oh madame, o negócio que ele tá falando é que nem que eu vi lá no filme é uma metáfora. Ele não vai bater, vai só ficar zangado.- E o senhor sabe lá o que é metáfora? Fica aqui metendo o bedelho na nossa conversa aqui atras.- Eu sei o que é metáfora sim! Pelo que eu entendi é assim: aquilo não é aquilo, mas é como se fosse aquilo. Então, em vez da gente dizer que aquilo é como se fosse aquilo, a gente diz que aquilo é aquilo. Mas não é. É como se fosse. Entendeu?- Eu entendi, mas eu to chocada com essa libertinagem. Olha aquele homem... Alfredo, beijando outro homem, de bigode ainda, Alfredo! Olha Alfredo!- E hoje tá até fraco. Eu falei. Hoje nem tem os "general"?- Que general?- General é aquelas mulheres de coturno que parece meio assim um macho. E o outro tipo de general é aquele homem transformista que é a traveca, mas anda é na gillete mesmo.- Tá ouvindo, Alfredo? A decadência como estão?- E a gente vai ter que ficar parado nesta merda, ô Coisa?- Calma Alfredo, não fica nervoso! Isso é questão do nível das pessoas. A gente que tem... não é motorista? ... A gente tem um nivel, a gente tem mais condições, temos que entender essa, essa, como é que eu digo, meu Deus?- Putaria!Falamos juntos, eu, ela e o tal do seu Alfredo. - Cruzes Alfredo, olha aquela moça! Gente, uma menina, dezoito no máximo, e a outra maiorzuda no meio das pernas da coitadinha, fazendo sabe lá o quê! Tá vendo Alfredo aquela alí? Alí, aquela Alfredo, em cima do carro! Olha lá Alfredo, a mão da grandona na menina! Elas vão se beijar na boca, minha Nossa Senhora...- Que transitozinho, hein jararaca? A gente não vem aqui em Botafogo nunca mais, tá ouvindo ô coisa!- Mas Alfredo olha as duas meninas! Tá beijando, tá beijando, tá beijando Alfredo! Alfredo! Alfredo! Alfredo! Ela parece... Alfredo é Gisele! Alfredo! Nossa filha!?- Filha da puuuutaaa...E desmaiou, o tal doutor me desmaiou, enquanto a jararaca da mulé saiu porta afora de sapato na mão atrás das duas e eu pensando: não quero nem saber, vou encostar o carro aqui mesmo e espero o resolver, que umacorrida dessa eu não vou perder, que eu não sou bobo e nem sou rico. Éruim de eu ir embora, heim?Ai eu fiquei naquela situação: eu com um cara que era um ex-valente todo desmaiado no banco de trás parecendo uma moça, a mulé pisando forte que nem um um macho, um general, indo atrás da filha, quer dizer, tudo trocado e eles reclamando da filha. Se eu pudesse, eu ia lá defender a moça, mas não posso, já que o negócio é de família, né?Eu não tenho preconceito não, mas é isso que eu tava falando pra senhora: daqui a gente sabe cada coisa! Mas é cada um com o seu cada qual.
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